quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Queridas(os) alunos próximos e outros textos escaneados de História da Escolarização

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escolas_etnicas_na_historia_da ed_bras_a contr_dos_imigrantes.ziphttp://www.mediafire.com/?0x1i1zlngqm
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3 comentários:

Anônimo disse...

As bem intenciondas propostas de inserção educacional respeitando a condição de indígena, isto é, pensar e inserir-se no mundo a partir da diferença, fazem-nos recordar as reflexões deleuzeanas do filosofar e viver a partir do "simulacro" e da alteridade, e não a partir da forma "ideal", da identificação em relação à verdade, assim como as do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, a saber, a de que o índio faz uso do "perspectivismo" (conceito da filosofia pós-moderna) como "visão de mundo" (o perspectivismo configura-se como algo mais ou menos nesses termos: eu sou uma parte do todo, e, de modo que eu possa conseguir entender o que é ser uma onça, eu devo me tornar, ou entrar na dimensão de vivência da onça, enfim, ver através da perspectiva da onça...). Isto é, os índios são pós-modernos (em certo sentido) avant la lettre e, portanto, o argumento de que os índios são selvagens, ou não possuem capacidade de inserção no mundo contemporâneo, é errôneo e fruto da ignorância e do interesse.
Este tipo de discurso, por sinal, não é novo e enseja uma observação sobre o Estado e os índios. Durante séculos o índio, catecúmeno cristão segundo os colonizadores, foi considerado selvagem ,bárbaro. Aliás, sabe-se que o índio, depois de longos debates teológicos do "cara pálida", do "caraíba", europeu, ganhou alma (!) e por isso não deu-se tanta ênfase, por parte do colonizador, em sua escravização, mas sim na do negro, que não tinha alma, ou, se a tivesse, era negra, porque bestializada, acabando por conseguinte as terras tupiniquins tornando-se o receptáculo da maior corrente migratória de escravos da história (estima-se que o Brasil recebeu de 6 a 5 milhões de africanos).
Mas atendo-se ao contexto histórico mais recente, ou seja, uma visada sobre a consolidação do Estado e a tentativa de incorporação do índio a este Estado, observa-se que esta tentativa "bem-intencionada" às vezes é danosa, na medida em que muitas vezes o contato entre sociedades se dá de maneira desigual, isto é, o branco é que quer entrar na terra do índio, quer "protegê-lo" ao mesmo tempo que extrai de sua terra riquezas..., ou ainda, com a simples introdução de um material da cultura ocidental, que pode causar impactos imprevisíveis e muitas vezes dramáticos, a ponto de dissolver a estrutura social de uma nação indígena.
Mesmo que a escolarização dos índios se dê em moldes em que a diferença é o eixo principal da educação, não deve-se ignorar que isto é um paliativo ou tentativa de se contornar um estrago ou impacto, como queiram, que é a aculturação ocorrida em certa medida com o índio.
Embora renomados e antropólogos - como Marshal Sahlins, por exemplo - advoguem a capacidade dos povos de se adaptarem de forma criativa aos impactos da globalização, coloca-se no centro das discussões entre estudiosos e dirigentes políticos o problema do contato. Embora a maioria da população não saber, ainda há povos na "Idade da Pedra", vivendo nas mesmas bases que seus antepassados - sociedades igualitárias, sem criação de excedente para acumulação, sem extratificação social, etc. Perguntas são feitas: estabelece-se contato? Com que direito e interesses os "brasileiros", "cidadãos", devem educar ou interferir na vida destes seres que nunca ouviram falar em Brasil, América, Estado-Nação, capitalismo, educação, etc.? Há aqueles que argumentam a favor da não realização de contato, já que o simples contato se configura como uma quebra fundamental e irreversível (um simples mortal branco pode virar um "deus"...).
Pode-se contra-argumentar que estas minhas reflexões se dão pela exceção, pela minoria, e que a maioria das nações indígenas existentes já estabeleceu contato com o branco e consegue - a duras penas - manter sua identidade. Considero que este exemplo pode nos remeter à percepção do quanto é problemático o contato, sendo que os índios que já se inseriram ou tiveram contato com a sociedade ocidental muitas vezes sofrem pressões das mais diversas: roubo de terras, extração das riquezas de seu território, desestruturação que, quase como macabro e terrível corolário, traz a fome, a peste, o crime, a prostituição, exploração, etc. É claro também que não há o índio (genericamente falando) apenas, assim como não houve nem há a África, no sentido de que entre essas palavras há uma complexidade tal de povos, estruturas, culturas, modos e intensidade de contato com os brancos, que a simplificação conceitual não alcança. Deixe-se bem claro que não se está advogando a ignorância e alienação do indígena que recebe uma educação simultaneamente ocidental e indígena - a educação é importante para os índios na medida em que precisam entender o modo de vida e as manipulações do branco, de modo a poderem defender-se, ademais adquirir autonomia -, mas se está chamando a atenção para o fato de que qual caminho o índio irá ter ante a avassaladora introdução de uma outra cultura, que sabemos não é apenas a singela e pura introdução de uma outra cultura nova.
O processo de inserção do índio é dramático na medida em que discussões entre os antropólogos nos alertam sobre o perigo do universalismo:

"O objetivo de Claude Lévi-Strauss é investigar a justeza do imperialismo histórico. Ele parte de uma constatação que destrói a pretensa evidência do historicismo: a existência de povos, outrora chamados de 'selvagens' e recentemente de 'primitivos', cujo pensamento por natureza, rechaça a história (ou, pelo menos, a história tal como a concebemos, factual, cumulativa, progressista e constituindo por excelência o lugar da legitimação). É no mito - que narra histórias 'atemporais' - que esse pensamento se reconhece.
A etnologia, durante muito tempo, afastou-se do paradoxo de um tal pensamento, qualificando-o precisamente como primitivo: pensamento de povos 'sem história', faltaram-lhe certas dimensões, o que o reduziu a praticar a explicação mágica, a se ater a uma 'física' das qualidades sensíveis, a se contentar com técnicas de organização social fundadas apenas no parentesco, a ser incapaz de acolher os progressos tecnológicos. Seu desconhecimento da história, portanto, era concebido como sendo, ao mesmo tempo, o índice e o produto de sua fraqueza.
Ora, a pesquisa etnológica mostra,com grande abundãncia de provas, que esse pensamento é menos primitivo do que selvagem: no sentido em que 'selvageria' se opõe não a civilização, mas a domesticação. Na verdade, o pensamento selvagem, como tal, não carece de nada: sua invenção mitológica é espantosamente intensa, seu poder classificatório é tão grande quanto o dos físicos modernos, a explicação dita mágica é ainda uma explicação, e a sutileza da ordem social que ele instaura nada tem a invejar, quanto à forma, aos nossos sistemas de proibições. Quanto à idéia de que os povos selvagens seriam sem história, Lévi-Strauss a recusa: ' A infeliz distinção entre 'povos sem história' e os demais poderia ser vantajosamente substituída por uma distinção entre (...) sociedades 'frias' e sociedades 'quentes': umas buscam, graças às instituições que criam, anular de modo quase automático o efeito que os fatores históricos poderiam ter em seu equilíbrio e continuidade; as outras interiorizam resolutamente o devri histórico, para fazer dele o motor do próprio desenvolvimento". (CHÂTELET, François.;PISIER-KOUCHNER, Évelyne. As concepçoes políticas do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, p. 634-5.)

Dadas estas considerações, exemplifiquemos: os índios do parque do Xingu, reunidos numa zona delimitada, estçao sendo "cercados" pelo avanço da agricultura e da exploração dos recursos naturais. Pode-se pensar que é questão de tempo a autofagia predadora que o país Brasil fará de seus filhos mais ilustres (mas os mais desconhecidos...)?
Quanto aos índios já inseridos - ou melhor, marginais, pois é só dar uma volta no Centro ou na Redenção para se ver o quanto estão inseridos e o quanto são bem vistos pela população - pode-se indagar se eles serão os novos judeus ou ciaganos da história?
Por fim, fecho a minha verborrágica contribuição com as palavras também de Lévi-Strauss, pois não pensemos apenas na "tutela" do índio, na nossa força avassaladora em destruir culturas e dominar simplesmente para a acumulação de riquezas, no distanciamento necessário e ambíguo, ou no nosso "dever" de incorporar o índio ao Estado brasileiro - muitas vezes necessário, mas não menos discutível - , mas na contribuição que o índio pode dar direta ou indiretamente à nossa sociedade:

"As outras sociedades não são talvez melhores do que a nossa; ainda que estejamos inclinados a crer nisso, não temos à nossa disposição nenhum método para o provar. Conhecendo-as, todavia, ganhamos um meio de nos destacar da nossa, não porque essa seja absolutamente ou apenas má, mas porque é a única da qual nos devemos libertar: e o fazemos por meio das outras. Colocamo-nos assim em condições de abordar a segunda etapa, a qual consiste - sem nada conservar de nenhuma sociedade - em utilizar todas elas para deduzir os princípios da vida social que nos será possível aplicar à reforma de nossos próprios costumes (...)". (Triste trópicos, IN: CHÂTELET, F.; PISIER-KOUCHNER, É. op. cit., p. 637.)
Ademais, a luta dos índios é também a nossa, na medida em que além da permanência de sua cultura, luta-se por uma sociedade que ainda não possui as relações sociais baseadas no econômico e consegue viver sem depredar a natureza, sem viver um modo de vida, enfim, suicida.

Assinado: GILBERTO ANTONIO BASTOS JR.

Unknown disse...

Olá, Estela!
Não estou conseguindo fazer o dowload do texto... seria possível enviá-lo por e-mail?
Grata,
Cândice Bolzan (turma 4ª manhã)

D. disse...

Estela,
Eu e a Juliane da turma K, de segunda manhã, ficamos de entregar por email as questões sobre o texto Maquinaria Escolar. Mas aqui não consta perguntas ( ou não achamos)sobre o texto referido. De qualquer forma iremos na segunda feira à noite conversar contigo e ver o que podemos fazer, se podemos fazer ali mesmo essas questões de forma presencial. Um abraço,
Dayana Matos.